sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

(Jackson Pollock - Number 7 - 1951)

"Já naquela primeira conversa sobre o pinheirinho, chamou-se a si próprio de Lobo da Estepe, e isso também me causou estranheza e perturbou um pouco. Que expressão aquela! Mas acabei por admiti-la não só por hábito, como porque, em meu pensamento, só chamava o homem por aquele apelido de Lobo da Estepe, e até hoje não saberia dar-lhe nenhum outro nome mais apropriado do que este. Um lobo da estepe, perdido em meio à gente, na cidade e na vida do rebanho - nenhum outro epíteto poderia definir com mais exatidão aquele ser, seu tímido isolamento, sua natureza selvagem, sua inquietude, seu doloroso anseio por um lar, sua falta absoluta de um lar."
[HESSE, Hermann - O Lobo da Estepe
Editora Record (1927)]


É assim que começo um novo ano: com a sensação da mistura de todos os outros que já se passaram, e prossigo, assim, à caminho do novo, definitivamente sem por ele querer perseguir. Dentro dessa mistura toda, surgiu Hesse com seu lobo, me fazendo parar mais ainda pra pensar sobre o jargão "ano novo, vida nova". Realmente a busca pelo seu próprio ser, pela sua essência se faz nova a cada novo ano, a cada nova semana, a cada novo dia; mas essa já é uma busca antiga, passada, remexida, empoeirada, que não se faz mais excitante por ser o primeiro dia de um novo ano. Ela se faz, cada vez mais pra mim, exaustiva, cicatrizada e com os pés no chão.


O novo só é a continuação dos que passarão - e que, eu, passarinho.


(...) estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. (...)Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

[Clarice Lispector, donzela que espera no topo do castelo alguma explicação.]


Um feliz ano velho embrulhadinho em um novo ano.